19 fevereiro 2006

20. Tempo de Inverno


são curtos dias de alongar
gelos que a manhã desperta
vento que solta estranho grito
silvo de dor desfeita em água fria
abrem-se as mãos ao sol do dia
para amanhã a vida se enrolar
casulo que espera borboleta

o canto cinza do amanhecer
embala a melancolia da terra
dormente, deitada em silêncio
sabendo o segredo que o ventre
carrega onde o frio não chega
esperança calada da semente
doçura verde do renascer


Lique dixit

17 fevereiro 2006

19. A morte


Estranho o acto de se contemplar a si mesmo deitado no solo. A sensação era a de ser uma massa inerte e despojada de vida.
Apesar das sombras que contornam o corpo e que se movem na exacta velocidade do rodar do Sol e da Terra.
Como seria de esperar, não existia simetria entre o corpo e as sombras; estas estavam mais descaídas na obliquidade da paragem forçada do corpo que apenas se move em função dos movimentos circulares das voltas da Terra sobre si mesma e das enormes parabólicas em torno do Sol. Tudo ao ritmo lento da Natureza.

[Natureza morta] pensou de si para si; o nada que se via a si mesmo deitado de encontro ao solo.

A projecção [dele próprio, corpo morto]. Sorriu.

Sabia vagamente que flutuava embora não entendesse porquê, da mesma forma que [lhe] era ininteligível o facto de estar a ver-se de costas [as imagens reflexas que havia obtido no espelho – apenas de frente – devolveram-lhe sempre uma imagem em negativo de alguém de quem não desgostava. [Corpo esguio]

Odiava a posição em que se encontrava – por ser uma exposição? – caído de bruços com a perna esquerda esticada e o pé ligeiramente de lado, enquanto que a direita se tinha recolhido a uma espécie de posição fetal – O pequeno corrimento rubro que saía pela nuca dava-lhe a sensação de que poderia estar morto, o que parecia obviamente uma impossibilidade já que se conseguia olhar a si mesmo e sentir o movimento das pessoas a circularem na rua – alheias ao corpo caído – o ruído dos automóveis e até algumas graçolas de mau gosto.

Preocupava-se sobretudo com as sombras, enormes contornos escuros que se moviam com uma lentidão arreliadora.

A invisível campânula vítrea abafava os sons sem deixar entender aos transeuntes a voz que em pânico gritava palavras sem nexo.

Voltou a sorrir quando entendeu que era um indigente, um sem-abrigo, alguém que simplesmente tinha sido despojado de toda a dignidade. A morte sobreviera e apenas os contornos de uma sociedade estranha e sem humanidade permaneciam na memória que o acompanharia na longa viagem a outras dimensões.

Tudo agora eram sombras e inevitabilidades.



LetrasAoAcaso dixit

18. simbiose


Flávio Machado (c)


nos cabelos submersos
da manhã
caminha a garça

por ventura ou
por desgraça
neles embaraça os pés

de tal modo entrelaçadas
seguem sem vôos
garça e manhã
até que o sol se ponha
até que a noite se faça

e seja a manhã não-manhã
e seja inda garça a garça



Márcia Maia dixit

17. almost blue


mais que azul é o céu azul
visto entre os verdes
e essa lua que se achega
almost early
antes de a tarde partir

almost velho
vai janeiro em fevereiro e
os mistérios que em nós
nos inscrevemos
almost jealous
mês nenhum vai descobrir

(chet toca à distância e eu
penso em ti
de
desejo o meu corpo
almost arde
arderá também o teu longe
de mim?)

almost tarde
passa a noite e à madrugada
almost tired
adormeço lado-a-lado
com a saudade

almost lonely
almost tua

almost blue



Márcia Maia dixit

12 fevereiro 2006

16. LÁ ONDE A ÁGUA INSONE


Lá onde a água insone
faz a terra negra clarear
logo que a noite se perdeu
levantei tranquilo
a fina colcha do mar
para na minha face esquerda
contemplar
a cruz ocre
que a areia do tempo nela ergueu.


Henrique Dória dixit

10 fevereiro 2006

15. enquanto...

Havia um banco. Um banco igual àquilo a que se chama banco de assentar. Quatro pernas e um tampo. Quatro travessas a unir as pernas. Um ângulo desviava de cada uma a outra perna e desperpendiculava uma e as quatro do horizontal do chão. (afinal todos sabemos o que é um banco neste contexto de descrição de casa). No demais era um espaço. No demais eram corpos deitados. Juntos. Aconchegados. Apertados. Dormiam numa colcha de cheiro a descomidos.
Pancadearam na grade. (Podíamos dizer simplesmente que bateram à porta. Mas se não havia isso, há que encontrar modo de dizer de onde aquele ruído.) Um ruído surdo sobre tábua que é muitas tábuas com vários entres entre elas. Duas vezes bater. Às duas, foi ela que acordou. Ela. Um dos eles que dormia aconchegado, apertado (como vos aprouver). Arrumou um olho aberto. A cabeça descaiu do lado do ouvido que primeiro ouvira. Quem seria?! E isto não pensou. Gritou para o de lá dos entre tábuas quem é? Um grito que sabe, não é grito. Afirmação, não pergunta. Ela não falou. (podíamos dizer, apenas, que ela acordou com aqueles bates e esfregou um olho e pensou: “quem será?” mas... não foi bem assim...) Ergueu-se. Um corpo por de cima de outros. Alinhado numa vertical. Mais os outros se ficaram vistos na contrária posição. Corpos outros, que não ela, ondularam em espasmos de desouvir remurejando babas e sonidos sem voz e sem tino. Ela, a mão, nas tábuas. Os entres e as tábuas deslocadas para um ângulo agudo com... (podíamos dizer, simplesmente: levantou-se e abriu a porta, mas... não foi bem isso...).
Assombreou-se o escuro do de cá do ângulo, com o escuro do de lá. O ensombreado deslocou-se. O ângulo desfez-se. Ela seguida pelo que ensombreou. Acresceu um odor novo. Tudo renovou à horizontal. Tudo, não. O banco! O banco a fazer quatro ângulos com o tudo embaixo a ele.
Cheirava a cheiros. Rugiam silêncios entre corpos. Silvos. Esgares. Soluços. Fungares. Um choro. Um vagido. Um ranger de molares.
Nos entre as tábuas começava a clarear. O banco assomando num raio de sol à altura, precisa e segura, de uma mão, a primeira a sair de leve, nua, para o acordar de um dormir (aconchegado ou apertado, como vos aprouver) e correr para o de lá da rua.

Enquanto não consigo escrever o que se passou. Enquanto...outros o dizem de simples escrever...enquanto...escrevi este aqui - tem no por debaixo o que eu queria e não me sai de dizer nem, inda menos, escrever (e sangra...)


Seila dixit

14. lua cheia


Cansara de aguardar. Um dia atrás do outro. Um de riachos de água a desentupir sujeiras. Em outro, brasas de lume sobre a terra e nem maior se daria a secura...esta e o odor...aquele dançar de partículas de coisa que já fora.

Cansara. De Junhos e Setembros. Também dos que lhes ficavam, antes, depois e no entre. Aguardar é demais que espera. De espera a gente sabe que aquilo chega. De aguardar a gente nunca sabe. Até se dá em deslembrar . Fica só entalado num desvio da memória.

Ele cansara disso.

Num dos Dezembros, o pai morrera.

Não chorara. Não lhe entendeu aquilo na cara choro. Estranhara só.

Uma noite de um desses meses...puxaria a camisola para o pescoço. Abotoaria o éclair das de ganga. No bolso a carteira documentos notas. Aos pés da cama deixaria um cartão...pedaço de uma oferta de um Dezembro. Escreveria fui. Em letras garrafais. Ninguém que visse se deslembraria. Ficaria antes correndo. Procurando. Ele já iria em outro Junho. Nem seria já ele. Ele descambado de aguardar. Ele cumprimentado daqueles que passavam. Ele sempre quieto. Sentado na soleira da porta...arrimado ao pé do limoeiro. Arrumando sonhos.

Partiria.

Puxou a camisola para o pescoço.... apanhou um limão.

A lua rebentava de brilhos de cheia. Pisou a soleira. Entrou. A luz da lua estendia um lençol sobre a cama.

No mês de dois seguintes o limão mirrara. Na cama outro lençol de lua.

Ele já não era ele. Dizia assim quem o cumprimentara cansado de aguardar.... Diziam...num mês depois de dois...cuidaram que partira...ele apenas cansara. Cansara de aguardar.

Um dia atrás do outro...cansara.

Dormitório III, Vincent Van Gogh



Seila dixit

06 fevereiro 2006

13. Contando a vida, contando histórias...


Não gosto de enterros, muito menos de despedidas, mas vou num e faço o outro sempre que necessário. Enterro meus mortos até o fim. Velo os que gosto e visito, formalmente, os necessários.
Me recuso a dizer meus sentimentos. São realmente meus e deles só eu sei. Por isso, se não sinto, não digo. E se sinto, não falo.
E é bem assim que gosto de levar e ser levada. Pela vida, kismet selecionado.
Não contava com os imprevistos. Ficar viúva, um deles. Cansei de dizer que não pedi para ficar viúva. Desnecessário dizer, não me ouviam. Vivem a viuvez como doença contagiosa, perigosa e epidêmica.
Sexta de quase páscoa e resolvo, porque é a época do renascimento interior, abrir seus guardados.
Seus pertences, ternos gravatas e camisas, imediatamente após sua morte, foram retirados pelo irmão que se nega a sentir dor. Morrer, para ele, significa, até hoje, nunca existiu. Em dois dias ele finalizou com qualquer você que ele encontrasse pelo caminho. As crianças ficaram com as fotos, que eu tinha, e nada mais. Nenhuma peça, nenhuma relíquia, péssimas lembranças.
Sexta, madrugada de sábado, e acho que chegou a hora. Nunca disse a ninguém que todos os seus arquivos estavam aqui. Quando vi a desolação que ficou a casa, quieta, separei em pastas todos os teus papéis, que estavam aqui e ali, e juntos, guardei-os para mexer não sei quando.
Chegou o quando e sozinha, sentei para ver o que devo fazer de suas memórias.
Você guardou meus bilhetes de namorada... eu nem sabia. Separei na caixa verde. Caixa para pensar o que fazer. As contas, direto no saco preto, lixo. Rasgadas, picotadas, como era a sua vontade. Os impostos? Mesmo caminho. A jurisprudência me reservo o direito de ler mais tarde. São cansativas, para mim, até hoje.
Não larguei à toa meu curso de direito... entendi melhor seu trabalho mas, por outro lado, desisti com a certeza de não estar perdendo nada de importante para mim. Meu direito era você.
Encontrei o registro do nascimento das crianças, nossos termos de adoção das meninas pequenas, a receita da sopa do nosso primeiro. Uma das muitas fraldas que amarravam as pernas do segundo, para que sozinhas fossem formando sua bacia. Os primeiros cachos loiros da filha, que hoje é morena. Com algumas mechas que, tenho certeza, você não teria autorizado. A pulseira do hospital das duas molecas e, para lerem depois, o processo de adoção das meninas.
Brigamos muito com isso. Você não admitia que eu falasse em adoção perto delas. Quero te dizer: elas estão ótimas, e sabem, não só da adoção como adoram ouvir as loucuras que fiz para tê-las rápidamente perto da gente.
E encontrei uma senha. Fui ao seu micro e escrevi. Abriu como cascata, pastas, documentos. Três novos livros que deixarei para as crianças. Elas saberão o que fazer...mais tarde.
E vi cartas, muitas cartas. Em momento algum achei que fossem para outra pessoa que não eu. Por isso fui abrindo-as. Mas eram. Falavam de um marido que jamais imaginei. Coisas novas. Diferentes. Dolorosas.
Imprimi a primeira só para poder rasgar. Apertar a tecla delete era pouco para meu ciúme e raiva. A segunda que abri. Com três meses de diferença da primeira, marcava um encontro. Não quis saber. Pulei para o outro ano.
O nome havia mudado.
Voltei, já atordoada. A primeira era R. e a segunda, S. Oras se sou Maria, de onde saíram tantas letras diferentes? Continuei, soluçando, com essa busca tardia. Busca besta, a bem dizer. O que posso fazer agora, dois anos depois que morreu?
Se berrar muito alto acordo as meninas. Se sapatear, o vizinho de baixo reclama que não o deixo dormir. Mas a curiosidade, essa, me fez querer saber mais. Como se fosse possível novo sofrimento, dois anos depois.
Continuei lendo, abrindo e-mails, chorando. Para acompanhar resolvi tomar um scoth. Abri seu rótulo preto. Só para misturar com guaraná. Não nasci para whiskies, mas sim para vinhos. Abri um Udurraga. Acabei logo. Segui com aquele Côtes du Rhône que gostava de tomar quando ouvíamos Jazz. Que sempre achei uma coisa só nossa. Quando leio que pretende levar a quarta letra, a letra F., para ouvir jazz no All. Ah, juro homem, que meu sangue ferveu. Joguei da garrafa pela janela, mas arrependida, corri ver se não tinha machucado ninguém. Às quatro da madrugada realmente ninguém se apossa daqui. Se tu queria briga era briga que teríamos.
Abri a Cristal e joguei na mesma janela por onde mandei o vinho. Peguei da viúva, a Robert não a Clicot e também deitei janela abaixo. Os moços que na rua dormem, agradeceram meu acesso raivoso. Irritada com tantos nomes femininos em seus arquivos, pachorrenta, desci, madrugada mesmo, caixas e caixas de vinhos, uísques e pingas que fizeram meus homens de rua cada vez mais felizes.
— Agradeçam a ele, e apontei o céu, e não a mim.
— É a Páscoa, disse um deles, Deus morreu e tá chorando pinga hoje.
Não tive como não rir... ri, voltei pra casa e tranquei bem a porta. Você não me sai mais daqui até me dizer o que é essa profusão de letras femininas pulando em meus dedos.
A campainha toca. Horário estranho.
Era o Márcio, da padaria, querendo saber se eu realmente tinha dado aos moços toda aquela vinhataria.
— Por enquanto estou dando só os vinhos, respondi grosseira.
— Se for dar mais alguma coisa me avise, que atravesso a rua antes deles... ele riu, pobre Márcio.
Retruquei — Agora só dando o rabo.
É... estava brava. Não sou de responder e abomino as grosserias.
— Se for dar esse aceito também, respondeu Márcio. Ai desci, ou foi ele que subiu, mas estávamos rindo e tomando vinho em alguma hora que nem me dei conta.
Contei a ele da traição pós túmulo.
—Dona Maria, o falecido já faleceu mesmo, liga pra isso não.
— Você nunca teve marido, Márcio. Não sabe o que é isso.
— Ah, dona Maria, marido não tive não, mas esposa já tive algumas.
— Algumas, Márcio? Mas não quis saber. Hoje só me interessavam aquelas letras femininas. Em outra hora que também não sei predizer, ele estava mexendo no computador. Me chamou, sentou-me com cuidado e foi lendo uma enorme carta.
Uma despedida. Querendo morrer e não sabendo como, querendo deixar a pensão e sabendo que não poderia se matar, o falecido começou uma jornada à cata de doenças. Com tantas mulheres, conseguiu nenhuma doença, nenhum problema. Diabético que era. deixou escrito que começava ali o final do seu destino. Seu Beshér, destino, judaico-cristão. Aumentando a bebida, açúcares e outros proibidos. Realmente. Um ano após seu kismet literário, faleceu.
Suicídio voluntário sem arma e sem sangue.
Márcio pode até se consolar. Eu não.
Enterrei definitivamente o falecido quando cheguei na letra Z. Mulheres meio honestas não têm nomes começados pela letra zê.
Márcio desceu, deixei a porta destrancada. Não quero nunca mais que fiques aqui por perto. Saia que a porta está sempre aberta. Não tranco mais viva alma comigo.
E sua memória, deletei pela tecla FODA-SE.
Amanhã volto ao luto, que não curti. Ao preto que adoro usar. E à condição de viúva. Que atrai mais moços que mel e perfume.
E tenho dito... tenho...



Maria Odila dixit

05 fevereiro 2006

12. Presidência e Ais

Presidência e Ais - I
Ao pronunciar-se contra Cavaco, Santana Lopes feriu de morte todas as outras candidaturas.

Presidência e Ais - II
As muletas de Sócrates dão-lhe uma vantagem preciosa para defrontar Cavaco no difícil jogo do equilibro de poderes, que se avizinha. Cavaco, entretanto, já encomendou uma cadeira de rodas, duas arrastadeiras e um fato insuflável do género "sempre-em-pé" (cor de laranja), não vá o diabo tecê-las.

Presidência e Ais - III
80% do tempo desta campanha tem sido gasto a discutir o passado: o passado do candidato, o candidato no passado disse que, no passado o candidato fez assim e assado, o candidato está passado... É hora de desmistificar o passado. Assim, na verdade, Soares tem passado pelas brasas, nos troços de ligação entre arruadas, Cavaco tem passado assim-assim, porque lhe cai mal o lombo assado dos jantares-comícios, Alegre tem passado mal, com cãibras nas pernas, Jerónimo tem passado por bom rapaz, Louçã tem passado por Jerónimo e Garcia Pereira tem passado umas camisas a ferro, que se não for ele a fazer as coisas, também ninguém as faz. Pode agora falar-se do futuro?

Presidência e Ais - IV
Sondagem dá candidatos da esquerda taco-a-taco com a média nacional dos exames de matemática. "É uma poupança em gráficos que nem lhes conto", diz director de jornal. "Só precisamos de trocar o nome da disciplina pelo nome do candidato. Para o candidato da direita estamos a usar os quadros de um inquérito ao consumo de haxe em 20 escolas da Grande Lisboa. Qualquer coisa a rondar os 60 por cento já dá", adiantou, sem se querer identificar.

Presidência e Ais - V
Governo implementa sistema de moderação de comentários em Soares. A tecnologia, desenvolvida pela Haloscan, permite a monitorização e aprovação dos comentários do candidato sobre assuntos do Governo, pelo ministro responsável, mesmo com este ausente no estrangeiro. O primeiro teste seria levado a cabo hoje pelo ministro da Defesa, a partir da China, mas dificuldades na ligação via satélite aos estaleiros de Viana do Castelo impediram um resultado satisfatório.

Presidência e Ais - VI
Teoricamente, Alegre pode muito bem vir a ser o único candidato Alegre, na noite das eleições.

Presidência e Ais - VII
Jerónimo de Sousa garante ter conquistado 80% dos votos de Boas Festas na freguesia de Paio Pires.

Presidência e Ais - VIII
Garcia Pereira e Francisco Louçã disputam renhidamente os votos de "boas melhoras e rápida recuperação" dos acamados do Hospital do Barlavento Algarvio.

Presidência e Ais - IX
Viúva de taxista de Lagoa oferece os votos de pesar pelo seu falecido marido a Cavaco Silva.

Presidência e Ais - X
À revelia da Câmara de Lisboa, as noivas de Santo António entregam esta sexta-feira a Manuel Alegre 1374 votos de Felicidades ao Jovem Casal, 38 bouquets de noiva, um passe vitalício da Carris e um cartão-desconto do Cabeleireiro das Avenidas, válido até Abril de 2007.

Presidência e Ais - XI
António Guterres fez saber em Nova Iorque que se não tivesse engravidado Angelina Jolie não tivesse engravidado, era bem capaz de contar com o apoio dela, numa eventual candidatura de última hora à segunda volta das presidenciais e que mesmo assim ainda ia pensar. Guterres, recorde-se, é o português que consegue congregar maior número de apoiantes no estrangeiro, estimando-se que só os votos da África Sub-Sahariana já chegariam para lhe garantir uma vitória folgada. A candidatura, a ser lançada, terá o alto patrocínio do arroz Cigala.

Presidência e Ais - XII
Candidatos garantem apoios para uma eventual 2ª Volta: Cavaco assegurou hoje o patrocínio da Milaneza/Maia, Soares tem prometido o apoio da Paredes-Rota Móveis/BeiraTâmega e Alegre espera fechar amanhã contrato com a Barbot/Pascoal. Estão assim reunidas todas as condições para uma 2ª Volta disputada ao sprint, com as atenções voltadas para o desempenho dos candidatos na subida à Senhora da Graça. A organização e os direitos de transmissão televisiva estão nas mãos de João de Lagos, que já garantiu nomes sonantes da alta-roda mundial para as próximas 26 edições das Presidenciais.

Presidência e Ais - XIII
Louçã não consegue captar votos professados por religiosas de clausura, revela sondagem.

Presidência e Ais - XIV
Alegre propõe-se fazer de dia 22 uma festa da língua portuguesa. O candidato disponibilizou-se para declamar cadernos eleitorais junto de algumas mesas de voto e apelou para que os restantes candidatos façam o mesmo, estando apenas a aguardar luz verde por parte da CNE.

Presidência e Ais - XV
Garcia Pereira já mandou imprimir os 782 cartões "/agradece e retribui" com que vai agradecer os votos obtidos.

Presidência e Ais - XVI
Votar é um direito. Já os esquerdos, nestas eleições, são cinco.

Presidência e Ais - XVII
Votar é um dever. Bacalhau é um de comer. Autocarro é um de andar. Rádio é um de ouvir. Estamos entendidos?

Presidência e Ais - XVIII
Votar em branco é um acto de racismo?

Presidência e Ais - XIX
ÚLTIMA HORA: Pilar da Ponte apoia tabuleiro.

Presidência e Ais - XX
Sondagem dá vantagem ao 2 como resultado possível da adição 1+1.

Presidência e Ais - XXI
Era muito mais emocionante se as Presidenciais se decidissem através de pontapés da marca de grande penalidade.

Presidência e Ais - XXII
SONDAGEM: COMO ACHA QUE VAI SER A PARTICIPAÇÃO ELEITORAL NO PRÓXIMO DOMINGO?
[Manuel Albergaria, Rio de Moinhos]

"Olhe, Deus queira que haja uma corrida às urnas. É só o que eu peço. Nem que fosse só pinho, já dava para orientar o ano, se é que me faço entender."
Manuel Albergaria, agente funerário, Rio de Moinhos.

Presidência e Ais - XXIII
ÚLTIMA HORA: Santa Casa põe Grupo de Apoio ao Alto Premiado à disposição do vencedor das Presidenciais 2006. "É a nossa missão, prestar apoio e aconselhamento aos vencedores, pelo menos numa primeira fase, enquanto não se habituam à ideia. As pessoas acabam por nunca estar preparadas para uma coisa destas", disse fonte ligada à SCML por um cano de três polegadas, galvanizado.

Presidência e Ais - XXIV
Sala dos Espelhos do Palácio Foz esgotadíssima para a jornada de reflexão de amanhã. Bilhetes no mercado negro atingem já os 350 euros.

Presidência e Ais - XXV
A poucas horas do início do período de reflexão: vendas de Ajax Limpa-vidros disparam para o triplo.

Presidência e Ais - XXVI


Presidência e Ais - XXVII
Terminou a campanha. Agora é tempo de tomar um banho e ir para os largos, bailar com as raparigas namoradeiras e beber vinho novo em malgas de barro.

Presidência e Ais - XXVIII
Depois de falharem no Euromilhões da passada sexta-feira, 8.9 milhões de portugueses vão hoje tentar acertar no próximo Presidente da República.

Presidência e Ais - XXIX
Dos seis, só um se vai deitar Cavaco e acordar Presidente da República. Espero eu.

Presidência e Ais - L,VI
- (...) e eu, Aníbal António, prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
Beijam-se. [GRANDE PLANO, EM CONTRA-LUZ].
Aníbal pega-lhe ao colo, salta para cima do cavalo e exclama:
- Para Belém e mais além. Yeeha! - afastando-se em direcção ao pôr-do-sol, sob o olhar cúmplice de Kid Sócrates. Mário e Manuel choram, abraçados. Jerónimo e Francisco seguram Garcia, que esbraceja. Rantanplan corre atrás do cavalo.
[TRAVELLING LONGO DA CÂMARA EM CONTRA-PICADO, AO SOM DE "A PORTUGUESA". FADE OUT. ENTRA O GENÉRICO]
Fim.

Presidência e Ais – Res Caldo
Parabéns a todas as freguesias que ficaram apuradas e boa sorte para o próximo sorteio.
Portugal mostrou mais uma vez a sua capacidade em organizar eventos desta dimensão, capazes de mobilizar o país de norte a sul, projectando lá fora a imagem de que uma vitória de 30 por cento sobre o segundo candidato (a par da conquista de 17 dos 18 distritos em jogo) pode ser, afinal, uma "vitória tangencial" de onde o vencedor sai fragilizado e em que a derrota da esquerda é lamentada pela "ausência mais candidatos à direita" por putativos candidatos da própria direita (P.S. Lopes et al, Lisboa, 2006). Matéria mais que suficiente para umas largas dezenas de case-study's reveladores das idiossincrasias nacionais, portanto.


José Nunes dixit