o homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.
Bruna Lombardi - Uma Mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.
Bruna Lombardi - Uma Mulher
primeira fala
Sou eu, a abrir a porta do quarto, e a olhar para ti deitada na cama gigante com dossel. Sou eu, que numa voz reservada chamo por ti: vem! Sou eu que, momentos depois, te dispo em frente do espelho porque gosto de te ver, e digo: gosto de te ver. E dispo-te. e digo: quero foder-te, agora. Sou eu que te agarro nos meus braços e, secretamente, sem que te diga, julgo encontrar a resolução do problema maior: porque existimos? Agora sei, amor, que é para estarmos os dois despidos em cima desta cama, para nos amarmos com esta necessidade de desaparecermos. Sou eu, quem te toca nos seios, te beija os seios. Sou eu que te agarro, sou eu que sou agarrado por ti. Sou eu, essa língua que sentes afogar-se no teu corpo, esse pénis ardente que morre em ti como se nascesse. Sou eu que afago as metáforas com que te possuo. Sou eu.
Sou eu, a abrir a porta do quarto, e a olhar para ti deitada na cama gigante com dossel. Sou eu, que numa voz reservada chamo por ti: vem! Sou eu que, momentos depois, te dispo em frente do espelho porque gosto de te ver, e digo: gosto de te ver. E dispo-te. e digo: quero foder-te, agora. Sou eu que te agarro nos meus braços e, secretamente, sem que te diga, julgo encontrar a resolução do problema maior: porque existimos? Agora sei, amor, que é para estarmos os dois despidos em cima desta cama, para nos amarmos com esta necessidade de desaparecermos. Sou eu, quem te toca nos seios, te beija os seios. Sou eu que te agarro, sou eu que sou agarrado por ti. Sou eu, essa língua que sentes afogar-se no teu corpo, esse pénis ardente que morre em ti como se nascesse. Sou eu que afago as metáforas com que te possuo. Sou eu.
Porque me despes completamente
sem que eu nem perceba...
E quando nua
por incrível que pareça
sou mais pura...
Porque vou ao teu encontro
despojada de critérios...
liberto os mistérios
sem perder o encanto
do prazer...
Porque
quando nua
sou única
e exclusivamente
tua...
Isabel Machado - Nua
mónica gostava que ele lhe metesse as mãos entre as pernas enquanto ainda estava vestida: os dedos a afastarem a seda das meias, a tentarem alargar o cinto de ligas, a deslizarem na pele macia das coxas, a insinuarem-se já pelo caminho dos pêlos até à humidade quente dos lábios grossos, salientes e largos da vagina, onde sentia pulsar um perturbante coração afastado.
Ou uma boca cheia de sede.
dizes-me caminho contigo nua por dentro dos olhos e eu aqui a pensar com que essência hei-de perfumar este corpo para que na tua boca só o sabor da minha te ocupe. a sede cheia da tua boca.
ou deixar que me ates a esse teu dia e caminhe contigo
assim por dentro dos teus olhos.
e onde estiveres virás sempre em mim. assim. secretamente.
ou deixar que me ates a esse teu dia e caminhe contigo
assim por dentro dos teus olhos.
e onde estiveres virás sempre em mim. assim. secretamente.
deixava que as pernas subissem, os pés roçando os ombros, mas primeiro como se hesitassem, numa espécie de abraço em torno do pescoço; depois, desciam de novo até aos ombros, abertas. Oferecendo-se, enquanto Pedro começava a lamber-lhe, ao de leve, as virilhas com o seu cheiro a fruto; um pequeno suor salgado a insinuar-se por dentro da saliva, dissolvendo-se na língua. E o sussuro, o gemido, eram tão baixos que ninguém saberia determinar de qual dos dois partiam.
Assim, vestidos.
dizes-me não esperarei um só segundo para me deitar no teu corpo. tenho a urgência em forma de pele e quero colher de ti esse fruto de silêncio. dizes-me não esperarei despir o teu corpo para me deitar nele. entrarei pelos teus olhos pela tua boca e descerei aos abismos mais quentes do teu ventre. dissolvendo-me no pequeno lago salgado entre os teus lábios. e se um gemido se colar à nossa pele é porque é de sussurros que os nossos corpos se fazem
e desfazem
entre as nossas mãos. um só pedaço de ti e saberia refazer-te
toda.
e desfazem
entre as nossas mãos. um só pedaço de ti e saberia refazer-te
toda.
desde o princípio, como gostava, logo depois de chegarem ao quarto da pensão pobre por onde ele a arrastava, ambos de respiração suspensa, subindo depressa os degraus da escada nauseabunda, penumbrosa, madeira lascada, gasta pelo tempo. Pedro, excitado, parava a meio para se esfregar nela, e Mónica quase gritava de gozo, prazer que isso despertava nela, curvada sobre o intenso cheiro almiscarado que o pescoço dele guardava, odor a cortar-lhe a respiração, entontecida e sôfrega.
"Não me quero vir já..." murmurava ele a morder-lhe os pulsos febris, breves, algemados pelos seus dedos à parede esburacada. E continuavam subindo a escada, sem fôlego, até ao último andar, patamar onde aparecia uma mulher gorda e pintada, que nas primeiras vezes lhe perguntou a idade - "por causa da polícia...", explicou; mas que nos meses seguintes se limitava a conduzi-los, sem palavras, até ao quarto que lhes alugava, quase vazio. Uma cama, uma cadeira, um candeeiro e um espelho chegavam-lhes durante as horas que ali passavam, nas quais só queriam beber-se, devorar-se um ao outro, misturando os sucos, o cuspo, o prazer, partilhando a posse.
Às vezes Mónica gritava.
dizes-me quero comer de ti a carne macia e rosada entre as tuas coxas. gritar-te por dentro que és minha e
sobre o cheiro intenso que te deixo
imprimir-te as minhas mãos e o meu sexo ardente
como dentes. morder-te a nuca e entrar em ti com a fúria toda de homem. não.
não chega devorar-te o corpo. é nos teus seios
ou entre as tuas pernas que quero todo o meu corpo.
sobre o cheiro intenso que te deixo
imprimir-te as minhas mãos e o meu sexo ardente
como dentes. morder-te a nuca e entrar em ti com a fúria toda de homem. não.
não chega devorar-te o corpo. é nos teus seios
ou entre as tuas pernas que quero todo o meu corpo.
pedro punha-lhe então sobre a boca a palma da mão, que ela mordia, e explodia dentro dela, o corpo muito magro erguendo-se, febril, enquanto a via continuar ainda e ainda revolvendo-se, os dedos excitando-os dentro de si, enquanto se ia masturbando ao mesmo tempo.
dizes-me não sei que fazer a este desejo intenso a este cheiro a mim e a ti
que se cola aos meus dias e
me transporta para aí
onde estás e me reténs. eu sei os teus dedos de cor
e com eles viajo por dentro de ti. cada um prolonga uma parte
do meu corpo. a boca de língua que te penetra
as mãos que te puxam e seguram entre as minhas coxas
e um meu sexo febril que te procura. não há lugar nenhum onde eu
saiba mais de mim
que em ti. caminhar contigo nua
assim
por dentro dos olhos é morrer a cada espasmo. e
reviver a cada vez que te dás. que me dou.
a terra é uma cama gigante. em cada rua eu te possuo com
um nome diferente. em cada rosto eu te olho. e se não chegasse
para enlouquecer de desejo
olho o meu corpo e nada nele nega a tua presença.
o dia a noite e
o céu esse dossel que nos cobre e esconde
dos olhares dos outros servem-nos de quarto. deito-me em ti em cada hora
e em cada vez te inundo do meu sémen. emprenho-te com este segredo
e já és minha mesmo sem o saberes.
volto a ti. nua. deitada. para mim. só para mim.
( pausa. digo-te de mim: nua. deitada. para ti. só para ti. desvelo
entre as coxas o segredo do teu corpo - em cada lugar do meu corpo
a tua língua deixou um rasto. e é o teu cheiro que cheira
na minha pele. e o teu sémen
que me nasce
lenta
lentamente. agora. aqui. enquanto escrevo.)
espasmo: que fazer com estas mãos e estes olhos
que te esperam. pausa: faremos amor como quem não nasceu
para outra vida.
que se cola aos meus dias e
me transporta para aí
onde estás e me reténs. eu sei os teus dedos de cor
e com eles viajo por dentro de ti. cada um prolonga uma parte
do meu corpo. a boca de língua que te penetra
as mãos que te puxam e seguram entre as minhas coxas
e um meu sexo febril que te procura. não há lugar nenhum onde eu
saiba mais de mim
que em ti. caminhar contigo nua
assim
por dentro dos olhos é morrer a cada espasmo. e
reviver a cada vez que te dás. que me dou.
a terra é uma cama gigante. em cada rua eu te possuo com
um nome diferente. em cada rosto eu te olho. e se não chegasse
para enlouquecer de desejo
olho o meu corpo e nada nele nega a tua presença.
o dia a noite e
o céu esse dossel que nos cobre e esconde
dos olhares dos outros servem-nos de quarto. deito-me em ti em cada hora
e em cada vez te inundo do meu sémen. emprenho-te com este segredo
e já és minha mesmo sem o saberes.
volto a ti. nua. deitada. para mim. só para mim.
( pausa. digo-te de mim: nua. deitada. para ti. só para ti. desvelo
entre as coxas o segredo do teu corpo - em cada lugar do meu corpo
a tua língua deixou um rasto. e é o teu cheiro que cheira
na minha pele. e o teu sémen
que me nasce
lenta
lentamente. agora. aqui. enquanto escrevo.)
espasmo: que fazer com estas mãos e estes olhos
que te esperam. pausa: faremos amor como quem não nasceu
para outra vida.
Wyeth; segunda voz: maria teresa horta- "Mónica", in intimidades e blimunda
Luís dixit
1 comentário:
Pois, é realmente um guarda jóias este cantinho!! Estou a despachar-me de outros afazeres para lhe dar toda a merecida atenção!
É uma boa pergunta "terás sentido o mesmo que eu...?", mas difícil de responder. Quem sabe um dia possamos saber...
Ler, escrever, usar as palavras para tornar o banal em algo maravilhoso, totalmente apetecível....
Voltarei, sem dúvida
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